Aliada fantasma

O vento gélido cobria o meu corpo, seguido de sussurros vindo das almas condenadas a vagarem pela eternidade, o caminho até o submundo onde eles teriam a chance de pagarem por seus pecados era longo e cruel. Fui salvo desse caminho por meu mestre que usando seus poderes conseguiram me devolver ao meu corpo, uma alma incompleta e sem cosmo, contudo devoto a Athena de tal forma que trilhei todo o caminho novamente para se tornar um guerreiro sagrado.
Como de costume em meio a esse cenário desolado faço minhas preces para que essas almas cumpram sua jornada e retornem algum dia mais leves e justas, como cavaleiro morto vivo, as vezes tinha inveja delas, mas um cosmo doce sempre espantava de mim qualquer sentimento ruim, nunca soube de onde vinha, mas ele acalentava minhas lagrimas de sangue e aquecia meu corpo gélido.
Em meio a uma prece ouvi um choro ao longe, nada incomum nesse lugar, porém esse me chamou a atenção, entre os clamores de ajuda que sempre ignoravam aos espectros furiosos que tentavam em atormentar, mas facilmente eram repelidos aquele lamento me chamou a atenção. De inicio achei estar perto, mas caminhei por dias, ou o que poderia ser dias, já que aqui não tinha como contar o tempo.
Uma energia diferente estava no ar, um cosmo vil e profano que apenas um ser que vivia entre os dois mundos poderia sentir e suportar, ao meu redor os ossos quebrados eram imantados com tal energia que os destruía e reconstruía como se consumissem sua essência e os transformasse em um ciclo quase infinito. Meu cosmo me protegia e eu seguia adiante ouvindo lamúrias e sussurros.
“Ela voltou, o espirito do ódio voltou”
“A sede de vingança está crescendo”
“A rainha está de volta”
“Fujam”

Essas eram as frases que eu ouvia de seres que aqui habitavam e pouco me incomodavam, os que eram muito poderosos me ignoravam por eu ser uma formiga a seus olhos e os fracos eram formigas a meus olhos. E desde que ninguém se provocasse tínhamos uma espécie de trégua e neutralidade.
Sigo em direção a um dos antigos, alguém que foi citado por meu mestre como um dos sábios desse lugar, um dos “Elder One” um ser tão antigo que talvez estivesse aqui quando os titãs tiveram suas almas presas, sim seus corpos estão na terra, mas suas almas presas aqui em lugares que nem mesmo eu em meu poder máximo poderia sequer me aproximar se ele não permitisse, mas em tempos de tranquilidade conseguia ir até ele.
Uma forte força varre meus músculos, meu cosmo é suprimido e não consigo me mover, ele o Elder estava ali a me observar e analisar, se eu era uma presa eu se era um intruso, em quaisquer das hipóteses eu estaria aniquilado.
“Criatura profana, o que te trás aqui nesse lugar”
A voz, vinha de dentro dos meus ossos, reverberando como se eu fosse apenas um graveto agitado ao som do ar. Eu sabia que o dono daquele poderoso som poderia me eliminar como se eu fosse menos que um grão de poeira.
“Ela voltou, o espirito do ódio voltou”
“A sede de vingança está crescendo”
“A rainha está de volta”
“Fujam”
Repito as palavras que ouvi e comento do lamento, se algo estivesse acontecendo nesse mundo ele saberia.

Uma risada ou algo que poderia se assemelhar ao ele de bom humor, mas que deixou os seres do mundo dos mortos paralisados e causou terremotos e ondas de energia sombria veio seguida de uma frase;

“Apenas uma criança mimada que ousou demais, ela foi traída por quem mais confiava e agora busca vingança, ao sul encontrará o lugar onde tudo começou”
Sabia que não teria mais informações e o que tinha já era muito, em respeito a meu mestre ou por capricho obtivera essa resposta, logo após a sensação de morte eminente sumiu, mas eu sabia que ainda estava sendo vigiado e essa sensação somente desapareceu quando eu saí da proximidade de seu território.

Seguindo em direção ao sul começo a sentir um ar mais frio muito incomodo, era um vazio além do sentido literal, eu já estava acostumado com o ar de morte daqui, mas esse era pior, não havia nada do sentimento de dor, medo, era apenas o nada.
Sinto que o caminho a frente estava se tornando mais densa, a atmosfera, os sons estavam se diferenciando dos demais. Ouço então vozes que soam estranhas, aprendi aqui com o tempo a ouvir as vozes dos mortos, tem um tom diferente, mas essas eram de seres vivos. Aproximo-me de maneira discreta e vejo algo que me surpreende, dois espectros de Hades conversando.
“Dessa vez vamos conseguir usa-la para que posamos conseguir aumentar o domínio de nosso Mestre até esse local.”
Eu não tinha preocupações com isso, mas aqui era o meu local, bom algumas partes e outros territórios já estavam bem protegidos, porem não deixaria Hades fazer esse local de base, apesar de saber que a uma das entradas para seu domínio fica perto e é vigiada por meu mestre.
Resolvo segui-los até onde iriam já que supus estarem atrás da causadora dos murmúrios e no caminho vou descobrindo mais sobre o suposto ser, uma jovem devota a Athena que em meio a maquinações dos seres do submundo se corrompeu e foi levada ao ladro obscuro quando foi traída por seus amigos que na verdade eram subordinados de Hades.
Uma maquinação infantil, já que a garota não era nem ao menos uma santa, porém serviu de uma pegadinha pra esses Esqueletos, que a fizeram se apaixonar e no dia do casamento a abandonaram e humilharam, fato que a fez suicidar, porém não sem antes amaldiçoar a todos. Isso não poderia incomodar, mas lembro de meu mestre falando que algumas maldições podem causar verdadeiros estragos.
Vejo uma cidade fantasma naquele local, interessante para se descansar se não fosse pelo fato da estranha energia que emanava dali e fazia mal até para mim.

“Quem está ai?”
Uma voz tão sofrida e carregada de ódio que afugentava todos mortos ao redor, porém eu continuava ali observando junto com os espectros.

“Senhorita, viemos aqui para lhe enviar até a o mundo dos vivos para que sua vingança seja completa, matar todos que a traíram, vamos abrir o portal e envia-la até o vilarejo ao redor do santuário e assim começar um ataque”

Um plano idiota, logo seria eliminado, mas mesmo assim a morte de um inocente seria de grande tristeza para mim. Quando vou interromper vejo vindo ao longe uma forma fantasmagórica, era sem duvida a dona da voz que interrogara os espectros.
Eu sentia vindo dela uma presença imponente, majestosa como poucas vezes havia sentido em um dos habitantes desse lugar, mas antes de mais nada os espectros já dizem a que vieram, falam que descobriram quem a traiu e que seus descendentes estavam vivendo felizes em sua vila, eles a levariam lá, mas em troca ela deveria servir a Hades ao invés de Athena.
Ela fica pensativa e vejo que quando falam o nome de minha amada deusa eu não aguentei, liberando toda a minha presença eu salto para diante deles e brado.

“Seres imundos, marionetes de Hades, como ousam falar o nome da grande deusa da justiça?”
Uma risada ecoa após o espanto que vinham deles, eles pareciam felizes e penso que são 2, talvez 3 contra um, mas sou um cavaleiro sagrado e mesmo que fossem milhares eu não recuaria.
“Rainha, ai está um dos servos daquela que a abandonou, querendo impedir sua vingança, o que vamos fazer é deixar você se saciar”

Eu me movo rapidamente e golpeio um dos espectros, ele parecia surpreso pela minha velocidade naquele local, mas eu era criado ali enquanto ele ... Quatro golpes precisos em suas articulações, vi a marca de hidra entrando e sabia que ele logo estaria morto. O outro se afasta, de seu elmo eu apenas consigo ver os olhos vermelhos brilhando, contudo quando me preparo para investida sou surpreendido com a presença da suposta rainha.

“Athena me abandonou nos piores momentos, eu a seria de todo o coração, devota reinava em um reino que hoje não existe mais, conheci um jovem e com ele me enamorei, era um verdadeiro rei de uma outra terra segundo ele, mas tinha a certeza que me amava e queria ficar comigo, porém ele apenas me usou e violou, jogando-me em meio a rua nua para ser humilhada, meus próprios servos riam e cuspiram em minha face. Onde estava Athena? Onde estava ela que eu sempre servi e no meu pior momento me deixou cometer esse crime.”
Sua força era enorme, e eu estava travado no lugar, era igual a mim, mas eu via ao longe o outro espectro apenas sorrir.
“Sua aura é tão maligna quando esse lugar, sua presença causa nojo e repulsa até mesmo aos mortos, como pode ser um cavaleiro dela, veio apenas para enganar a rainha Alkina”
Nesse momento eu vejo a suposta rainha vir em minha direção, seu corpo atravessa o meu e eu me vejo preso, era uma técnica poderosa de possessão que eu pensei em resistir, mas algo me dizia para relaxar. Deixava apenas vir todo o amor e carinho que recebi da grande deusa mesmo após a morte.
O espectro gargalhava, dizendo que eu agora era realmente um morto, ninguém conseguia escapar desse poder da rainha, porém logo ele se espanta ao ver que eu estava chorando, choro não meu, mas da rainha que sentia todo esse amor que eu tinha pela deusa, vendo dentro de mim através das aparências.
“Mesmo com toda essa energia ruim ao seu redor, você é caçado ainda acredita e tem esse coração bom? Me diga o motivo”
Meu braço se levanta e aponta para o espectro lançando uma rajada de cosmo que retira o elmo dele. Sinto dentro de mim a sensação de espanto e dor crescentes e como nossas memorias estavam unidas vejo que aquele era o homem que a desgraçara, a raiva vinha junto a minha e apontando o dedo para ele peço ajuda a ela.
Sekishiki Meikai Há.

Eu sabia que nessa distancia e nesse local o destino dele estava selado, com o poder aumentado pela rainha ela o havia encontrado a morte, infelizmente as 108 estrelas ainda estavam lá, afinal era apenas questão de tempo até as duas súplices acharem novos hospedeiros. Assim que ele desaparece ela se materializa na minha frente.
“Cavaleiro, como sabe que ela nunca me abandonou?”
Olho para o palácio dela e peço pra ela fechar os olhos e não ver, mas sentir o ambiente, era um cosmo doce, acolhedor, firme e que sentia uma grande dor no coração.
“Ela construiu esse lugar para você, nenhum fantasma ou espirito consegue manter a consciência de si, por muito tempo, a menos que tenha um deus protegendo. Ela sabia que não poderia interferir sem causar uma guerra e te deu esse local”
Sinto o local desmoronando e o cosmo que criou envolvendo a rainha, após esse espetáculo sua aparência não era mais tão humana, sim humanoide, mas não lembrava quem ela era antigamente, estava mais linda e poderosa.
“Como soube que havia algo errado?” indago
“Seu coração era puro, me lembrou o meu antigo em vida e ninguém mais sabia meu nome, apenas quem viveu naquela época e quando ele falou decidi confiar em você que não me rejeitou e sim se abriu”

Eu pensava que agora ela iria desaparecer, mas ao meu lado aparece meu mestre, reverencio a ele por tudo e ele sorri, vamos garota, agora você não é mais uma rainha, é uma aliada desse meu pupilo que sempre quebra as regras em nome do correto. Athena lhe deu um dom, não desperdice e lute por ela como sempre desejou.