Nova aliada

Um dia de descanso era raro em minha jornada, Mestre Ghost sempre me enviava a missões com a desculpa de fazer com que eu volte a antiga forma e liberte os selos que aprisionam meu poder, já que meu corpo atual não aguentaria. Contudo eu sabia que tinham outros motivos, ele sabia que eu seria caçado e que muitos cavaleiros apenas me deixavam vivo em respeito a ele que já não tinha muito tempo de vida estava me dando a chance de poder me defender por mim mesmo.
Hoje contudo foi uma exceção, ele estava de bom humor e deixou com que eu descansasse um pouco, fui então ao local que mais me sentia bem após a casa de Câncer, o cemitério dos cavaleiros. Muitos não sabiam, mas as vezes alguns dos guerreiros já mortos ainda passeavam por aqui alguns vinham e oravam em agradecimento a Athena por permitir que eles pudessem lutar por ela, mas raramente algum estava revoltado, almejando recompensas que imaginara como ser humano e nunca alcançara, fama, glória, status e esses espíritos eu enviava para o Yomotsu.
Estava deitado ao lado do tumulo de um cavaleiro que me contara antes de desaparecer sobre a primeira guerra santa, seu rosto demonstrava orgulho em ter participado e vencido, mas, falava sobre Athena com muito louvor.
Escuto ali em meio ao silencio que se fazia uma voz infantil, uma risada de criança que destoa de tudo que estava representado naquele local, olho para ver e vejo uma menina de 8 anos atrás de uma lapide, ela me vê e com o indicador me pede silêncio enquanto vejo um soldado raso passando.
_Ei, zumbi – ouço uma voz com um tom de desprezo o qual ignoro. – Viu uma garotinha passando por aqui? Responda rápido ou...
Apenas olho pra ele sem muita paciência o que o faz tremer, mas respondo.
_Não – o que era verdade eu não tinha visto ela passar e sim vendo ela parada.
Logo que ele se afasta a menina chega atrás de mim e se senta do meu lado.

_Tio, ele não gosta de você, mas sei que é legal, me ajudou a esconder daquele chato.
Sorrio pra ela, a inocência infantil era algo que deveria ser preservada então dou atenção.
_Muitas pessoas não gostam de mim, na verdade é mais fácil contar nos dedos quem gosta, mas, o que uma jovem faz aqui nesse lugar, aqui você pode se machucar.
_ Eu estava brincando de esconde-esconde, onde eu moro é tão chato, não tem nada pra fazer, apenas aulas e mais aulas, coisas que eu já sei, mas papa insiste em me falar.
Penso que o pai dela deve ser bem exigente, mas entendo os motivos dele, quando penso em dizer algo sinto uma presença maligna naquele lugar, puxo ela de lado enquanto vejo um esqueleto se levantar ali. Era algo que já tinha visto, mas bem incomum e a tempos não via.
A jovem se assusta e corre para se esconder antes mesmo que eu pedisse, o que mostra que é esperta. Um soco é necessário para que eu o derrube, olho ao redor e vejo que vários estão surgindo e isso era certamente era algo preocupante. Tentei me comunicar com Ghost através de meu cosmo, mas uma barreira bloqueava o local e devido a meus poderes, ou melhor condição especial, eu via uma barreira criada ao redor do cemitério. Minha preocupação era a menina e corro pra procura-la.
Após uma pequena corrida a vejo cercada por alguns esqueletos que sobreponho sobre eles minha força e chego até ela.
_Você está bem? Fique perto de mim que vou tirar você dessa situação.
Ela se encolhe atrás de mim com medo, procuro uma fonte de energia que possa estar vindo para que esse levante aconteça. Um dos esqueletos ao fundo grunhe alguma coisa que me chama atenção, seus olhos estavam em uma cor roxa, parecia ser o mais forte deles, já que seus ossos tinham uma cor mais escura. Restos de armadura não restauradas por Jamiel estavam ali, mas olhando bem a fundo era um soldado menor, sem patente.
_Segure-se – digo a ela enquanto a seguro firme e salto em uma voadora contra o esqueleto.
Seu corpo e duro, mas meu cosmo me protege e consigo eliminar, porém em pouco tempo ele se recompõe. Seus olhos mantinham ao brilho que agora de mais perto eu vi serem chamas.
_Tio, tem uma coisa dentro da cabeça dele...
Por instinto, ou uma sensação de obediência golpeio fortemente a cabeça dele, já revestido por minha armadura que me acompanhava sempre nas minhas caminhadas. O barulho de uma coisa oca quebrando ao impacto de meu soco, fragmentos de ossos voam ao meu redor, mas protejo o rosto da jovem criança para que isso não a atinja. Uma chama roxa sobe aos céus e vejo dentro de seu crânio uma gema, pego e a levo comigo, sinto que ela tenta corromper a minha mente, mas um abraço apertado e um agradecimento da criança me traz à razão.

_Obrigado, eu agradeço de coração por ter me ajudado.
Todos os esqueletos desmancham no solo contudo, não temos um momento de sossego, vejo vindo em minha direção o soldado que eu havia visto antes, era uma boa entregar a menina para ele, para que pudesse tomar conta dela enquanto investigo o local, mas ela aperta mais meu braço e olha pra ele com receio, um sentimento estranho me ocorre e uma aura má está envolvendo seu corpo, não entendia como a garota não se afastava de mim, mas creio que de maldade nesse local eu era o mais “inocente”.
“Me dê a garota cavaleiro maldito”

Essa voz reverberava por todo o cemitério e o seu som não era mais humano, algo estava tomando conta daquele soldado, eu me preparava para lutar, quando a garota me pede para não ferir o soldado, eu não podia resistir, cometer esse crime na frente dela seria doloroso, mas mesmo que fosse difícil eu tentaria meu melhor.
_Quem é você e o que quer com essa menina, sei que não é o soldado que outrora, sua energia e aura estão diferentes, antes era um inútil, agora alguém que chamou a minha atenção.
_Isso não tem interessa, aberração. Entregue essa garota e tenha uma morte indolor, apesar de ser um traidor de nosso grande Hades.
_Desculpa amigo, mas essa criança vai ser protegida, em nome da grande deusa Athena, a quem eu como santo de bronze atualmente jurei lealdade, e mesmo após a minha morte continuo leal a ela. Não vou deixar ninguém menosprezar a grande deusa.
Eu tinha que proteger a garota que era obviamente o alvo dele, então envio a minha armadura de Hidra para proteger o corpo dela, eu ficaria desprotegido, mas ela sairia logo e eu tinha a sensação de quem alguém poderia avisar algum santo de prata ou ouro para que investigasse esse local, possivelmente quebrando a barreira.
A minha vantagem com meu cosmo se mostra frente a ele, já que eu via que o soldado estava sendo controlado, a luta estava equilibrada, mesmo sem a minha armadura eu conseguia manter essa igualdade por minhas habilidades que de certa forma afetavam o que estava com o soldado.
EM um certo momento ele se volta para a garota, mas a armadura de hidra a defende se mostrando uma grande aliada. E por falar nisso o ao meu lado uma voz suave:
_Deixa que eu a protejo, luta direito.

Era minha aliada, a antiga rainha que agora estava ao meu lado, ela sorria de uma forma estranha ao olhar para a menina, mas não pergunto o motivo.

_Infelizmente não posso ir com tudo, o soldado está possuído e nossa amiga pediu pra eu não matar, pra salva-lo então estava pensando em um plano, mas não poderia deixar ela sozinha.
Coloco minha armadura e dou um abraço na criança enquanto digo:

_Essa moça aqui é minha amiga, ela vai cuidar de você enquanto salvo aquele soldado como me pediu.
Olho pra minha amiga que estava chorando ao abraçar a criança, quando questiono o motivo ela diz:
_Seu cérebro morreu mesmo? Ela é...
Somos interrompidos por um ataque do soldado que agora eu mais tranquilo poderia lutar sério, Sekishiki o esperava e vamos então para o mundo dos mortos. Esse lugar tinha um efeito diferente entre os seres, vivos e mortos eram afetados diferentemente por sua aura. E isso enfraquece a possessão, que se desfaz, o soldado grita ao acordar e pensa em me amaldiçoar, mas algumas lembranças veem a sua mente e ele corre para ficar perto de mim, sabia que eu estava mantendo a calma caso contrário ele estaria morto.

_Sabe esse lugar é apenas uma passagem, mas se eu te enviar novamente para onde quer, tão perto das colinas do Yomotsu, sua alma ficará perdida para sempre, ou melhor, será destruída para sempre e nunca mais irá reencarnar.
Sinto a fúria crescente o faz vir envolto em um cosmo vil contra mim, mas novamente envio meu sekishiki que o atinge lançando contra o grande monte. O grito de seu espirito se desintegrando logo desaparece. Era o fim e ao chão vejo outra gema da mesma cor, entregaria isso pra Ghost ele saberia o que fazer. O retorno ao mundo dos vivos era algo mais tranquilo. O soldado que antes queria a minha cabeça, me agradece e vai embora com a menina que antes de ir embora olha pra trás e se despede:
_Tio, adorei a aventura, vamos fazer mais depois?

Apenas sorrio para ela enquanto vejo novamente o sol brilhar sobre o cemitério, esse local estava precisando de mais proteção, mas retorno a casa de câncer, e entrego as gemas para meu mestre que se surpreende ao ver aquilo no santuário, disse que era um sinal de que Hades estava começando a despertar, mas que ainda levaria tempo. Porém não tinha muito o que fazer agora, já que ele havia sido chamado pelo grande mestre para apresentar Athena que estava salva no santuário. Ele insiste que eu vá, já que era um pedido também do próprio Papa. Apesar de ambos acharem estranhos a rainha estava rindo e ao chegar lá vejo uma jovem garota sentada no trono, com o mesmo sorriso que a tinha visto no cemitério e então entendi algo
Em minha mente a mensagem:

“Obrigada pelo dia , tio”