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     Pilar de Almas

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    2 participantes
    AutorMensagem
    Akira
    Cavaleiro de Athena
    Akira


    Mensagens : 31
    Data de inscrição : 28/04/2022

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    MensagemAssunto: Pilar de Almas   Pilar de Almas Icon_minitimeDom maio 08, 2022 5:01 pm

    Eu tinha apenas doze anos quando aquilo aconteceu. De início, foi apenas uma coincidência. Seraph de Cefeu, a mais antiga Amazona da Ilha de Andrômeda e considerada por todos como a capitã dos recrutas, estava de patrulha quando sentiu uma perturbação próxima da floresta chamada Planalto de Eritreia. Ela seguiu na direção de onde tal sensação estava vindo, e acabou em um tipo de vilarejo na parte oriental da floresta. Chamado Lustwood, o vilarejo estava dividido em duas partes: uma mais acima e outra mais abaixo, a segunda mais próxima de um rio. Era bem organizado. As casas de adoração no centro deixavam claro que eles seguiam alguns valores religiosos e tinham até mesmo um tipo de líder, que aqui chamaremos de prefeito, para tomar conta do vilarejo como um todo. Foi com ele que Seraph conversou na intenção de descobrir o que poderia estar acontecendo. O homem relutou, mas cedeu depois de muita insistência da mulher.

    Ele explicou que faziam alguns dias desde que criaturas estranhas passaram a ser notadas pelos arredores. Um grupo de crianças foi pego enquanto brincavam, e de cinco só duas voltaram. Elas descreveram o bicho que as atacou como alto, corcunda e sem um rosto reconhecível. Por serem um tanto religiosos, os civis passaram a chamá-los de um termo local que traduzido para o nosso idioma significava simplesmente... demônios. Seraph decidiu que precisavam ajudar aquele povo, então ela reuniu um grupo de cavaleiros e aspirantes para caçar pelas redondezas e acabar com os problemas de Lustwood. Mas foi a partir daí que as coisas começaram a ficar macabras.

    Paralelamente às aparições dos monstros — que, de fato, eram bem diferentes do comum e ninguém da linha de frente tinha visto algo do tipo —, alguns civis de Lustwood começaram a agir de forma estranha. Começava com acessos repentinos de agressividade, para depois começarem a agir como zumbis e tentarem ferir qualquer um que tentasse chegar perto. Depois de examinar um dos possíveis doentes, nossa líder notou que os sinais indicavam uma única coisa: possessão.

    E é aqui que eu entro nessa história.

    — Como eram muitos, Seraph pediu que um grupo bem maior fosse até lá para ajudar na recuperação dos civis.— falei, explicando para um novato o motivo de um grande grupo estar todo se mobilizando para uma única missão. Fora os três que seguiram com Seraph da primeira vez, agora mais nove pessoas estavam se juntando, totalizando doze pessoas reunidos em prol de um único problema. Apesar de tentar acalmar o novato, eu mesmo estava apreensivo, afinal, mesmo depois de anos de treinamento naquela ilha nem mesmo eu não tinha ouvido falar de uma tarefa que precisasse de tanta gente.

    A viagem até Lustwood foi inquietante. Eu não era o único preocupado afinal. Já tentou ficar em um lugar cheio de cavaleiros preocupados emanando sua preocupação pelo cosmo fazendo todos próximos se tornarem ainda mais nervosos? Eu já, e garanto que não é algo legal. Assim que pisamos no vilarejo, já fomos logo sendo levados para onde Seraph tinha montado a "central de tratamento". Localizado no subterrâneo da parte baixa do lugar, o primeiro grupo tomou de conta do que seria um antigo armazém. E posso falar? Um puta armazém. Parecia ser tão grande quanto o vilarejo, e pelo o que notei ainda descia ainda mais. Eu me questionei a necessidade da construção de um lugar daqueles, mas logo não tive mais tempo para meus próprios pensamentos.

    Foi uma visão infernal. Várias pessoas presas em celas improvisadas, todas separadas umas das outras. A sua pele estava estranhamente pálida, e o fundo dos olhos estavam tão esverdeados que chegava a ser incômodo encarar por tempo demais. Assim que nos notavam, elas avançavam contra as barras de madeira que as impediam de sair dali. Muitos colocavam tanta força em tentar escapar que começavam a sangrar. Alguns pareciam ter arrancado as próprias unhas, mostrando as pontas dos dedos em carne viva. Seus sons eram apenas grunhidos, como se nenhuma humanidade tivesse restado ali. Mesmo os cavaleiros mais experientes pareceram sentir o impacto em um primeiro momento, então imagine o nível de estresse que foi para mim e os outros aspirantes? A gente simplesmente não sabia o que fazer. Minha reação foi apenas me encolher ali mesmo onde eu estava e desviar o olhar.

    O silêncio foi cortado pela voz da líder ecoando no ambiente. Seraph desceu a escadaria que levava até o lugar acompanhada pelo prefeito e uma outra mulher. Apesar de ainda parecer consciente, a mulher já estava com alguns rastros esverdeados cobrindo seus olhos. Não foi necessário avisar que aquele era um dos sintomas do problema que Lustwood estava por enfrentar. Ela se sentou numa cadeira próxima e abaixou a cabeça, no que a líder se aproximou e pediu para que nos reuníssemos em um canto. Assim o fizemos, e enfim tivemos o primeiro contato com os detalhes da situação.

    — Eu nunca vi algo assim. — começou ela, no que todos nos mantivemos calados e atentos, com o único som possível de se ouvir durante a pequena pausa feita sendo a nossa própria respiração — Quando chegamos aqui eram no máximo quatro pessoas desse jeito que estão vendo. Agora devemos ter pelo menos vinte, e mais vão aparecendo a todo momento. O número quintuplicou em um pouco mais de três dias, como um vírus se espalhando pelo ar. Mas não é uma doença que pode ser tratada com remédios, não é uma doença pertencente ao mundo físico. Está no plano espiritual, eu senti. Acredito que agora que estão aqui vocês também são capazes de ter a mesma sensação. Esse lugar está lotado.

    Uma coisa que é importante mencionar nesse caso é que possessões não são tão comuns quanto as igrejas e filmes tentam fazer parecer. Sim, espíritos existem, mas no geral eles não tentam tomar o corpo de alguém. É uma "subvida" quando o fazem, uma vez que não são mais compatíveis com o plano físico. Os danos colaterais são diversos, sobretudo para o hospedeiro que pode até mesmo morrer com o choque (e o espírito se ver condenado ao seu plano novamente). Com isso explicado, casos de possessão de fato são muito raros. É difícil até que uma mesma pessoa presencie mais de um caso em vida. Tipo aquela história do raio cair duas vezes no mesmo lugar, sabe? O alarmante é o raio ter caído em Lustwood não duas, mas vinte vezes e aumentando. É surreal.

    Agora sobre o comentário do "lugar estar lotado". Seraph sempre teve uma afinidade muito especial com o Mundo Inferior. Sim, ela era uma Amazona de Athena, mas algo sobre os domínios de Hades pareciam rodear sua mente e dizem que desde jovem ela é capaz de ver fantasmas. Pode parecer algo absurdo, mas considerando a existência dos espectros... bem, o que seriam simples espíritos para o Rei do Submundo? E o que são os espíritos se não almas sem um corpo? Tudo o que precisei foi fechar os olhos e me concentrar por alguns segundos para entender o que Seraph estava querendo dizer. Eu não tenho a mesma sensibilidade que a Amazona de Cefeu, mas toda a atmosfera daquele lugar era por demais macabra e me dava calafrios. Não só ali embaixo, mas como toda a Lustwood parecia estar infestada dessa energia negativa. Eles estavam por todos os lados. Eram tantos que eu senti meu corpo esfriar só de imaginar o que aconteceria se todos eles tentassem possuir alguém. Os cavaleiros saberiam se cuidar e se livrar de algo do tipo, mas e todos os outros civis?

    Tal situação colocava dois objetivos naquela missão: ajudar de alguma forma as pessoas afetadas a voltarem a normal, e também cuidar para exorcizar aquele vilarejo para que elas não voltem a enfrentar tal problema no futuro. Exorcizar uma pessoa vai de cada caso, depende de vários fatores como o comprometimento do possuído bem como o poder do espírito que está possuindo, e mesmo sensitivos experientes como Seraph podem encontrar dificuldade em algumas situações. Banir espíritos de um local também depende do fator poder dos espíritos sendo banidos. Ter Seraph nos direcionando tirava um grande peso das minhas costas, mas mesmo ela admitiu nunca ter passado por algo do tipo. Com tudo isso sendo considerado, ou conseguiríamos concluir nossa tarefa com facilidade, ou então enfrentaríamos o maior desafio das nossas vidas.

    [...]

    Só tivemos o tempo de acomodar nossos pertences em algum canto antes de começarmos os trabalhos. Para Seraph, não existia mistério de por onde deveríamos começar. Nesse meio tempo entre chegarmos e discutirmos os detalhes, outro civil com os sintomas foi movido para a nossa agora "base de operações". Com a mulher de antes, eram então vinte e duas pessoas para que serem tratadas contra doze cavaleiros e aspirantes, que a partir daqui chamarei de médicos. Cada um de nós foi designado para um paciente diferente. Nossa líder ficou com o que estava ali há mais tempo (pois um dos pontos contra um exorcismo é o quanto o espírito já se acomodou ao corpo), e então fomos nos espalhando com os mais experientes ficando com os civis a mais tempo naquela situação e vice-versa. Seraph não pediu por muitos aspirantes, então o grupo em sua maioria era formado por cavaleiros de bronze.

    Eu sei o que você deve estar pensando "o que possessões tem a ver com a tarefa de um cavaleiro de Athena"? Eu admito que a situação não é usual, mas foi justamente isso que tornou tudo mais alarmante. Se fosse mesmo o caso de termos espíritos escapando do mundo dos mortos, então significaria que algo de muito errado estava acontecendo nos domínios de Hades. Seria esse um plano do Imperador do Inferno? Seria sensato da parte dele tentar retornar justo quando os Cavaleiros estão ocupados lidando com os Persas. Nós queríamos ajudar aquelas pessoas e aquele era o nosso objetivo principal, é verdade, mas no fundo a intenção de termos sido enviados até aquele lugar era simplesmente descobrir o que poderia estar acontecendo no Mundo Inferior.

    Assim que me aproximei da cela improvisada, o meu paciente avançou contra as barras para tentar me ferir. Seu nome, segundo o prefeito, era Brian Smith. Eu recuei pelo susto, mas foi quando percebi que era um adolescente. Até então eu só tinha notado adultos por ali, então ver alguém mais jovem e com toda uma vida pela frente acabou me pegando de surpresa. Ele estendeu as mãos pelas brechas na tentativa de me alcançar, e ao olhar de relance acabei vendo que seus dedos estavam todos sem unha. Ele tinha arrancado? Provavelmente. Com medo de que o rapaz se ferisse ainda mais, eu corri até minha bolsa e utilizando uma toalha improvisei uma algema. Eu precisava tocá-lo para me conectar melhor, e ao prendê-lo próximo das barras seria mais seguro para nós dois.

    Antes de me aproximar de verdade, eu olhei para os lados na intenção de tentar dar uma olhada em como o restante do grupo estava se saindo. Como as celas eram uma do lado da outra, estávamos ali todos próximos enquanto tentávamos cumprir com nossa tarefa. Também por causa disso, quanto mais de nós iniciávamos as nossas tentativas, mas o som naquele salão subterrâneo se tornava perturbador. Uma pessoa gritando de forma descontrolada já era incômodo o suficiente, mas as várias vozes ali estavam se unindo em uma melodia aterrorizante. Eu fechei os olhos e tentei abstrair todos aqueles sons da minha mente, porque se eu pretendia ajudar aquele garoto à minha frente, então eu precisaria dedicar todas as minhas forças somente a ele. E assim eu fiz.

    Eu toquei a lateral do rosto do rapaz, um pouco abaixo da bochecha, no que ele começou a se debater na tentativa de morder a minha mão. Na verdade, ele parecia estar querendo se soltar, mas como não conseguiu acabou optando por outras maneiras de se impor. Apesar de estar bastante apreensivo com aquilo tudo, eu mantive o contato físico na tentativa de sentir melhor o espírito que tinha ali tomado conta daquele corpo. Cada alma desgarrada tem seu objetivo ao se tentar voltar ao mundo físico, e precisamos tomar tal objetivo e usá-lo contra o espírito para poder ter o controle da situação como um todo. Logicamente, é mais fácil explicar do que fazer.

    Meu primeiro passo após me acostumar com a pressão da presença de Brian à minha frente foi novamente me concentrar. O ensinamento mais básico de um Cavaleiro diz que temos um universo dentro de nossos corpos e ao explodi-lo nós podemos realizar feitos incríveis com o nosso cosmo. Seraph acreditava que o cosmo ligava as pessoas e que com alguma concentração os universos dentro de nós poderiam se comunicar. Apesar de religiões diversas do nosso mundo terem suas próprias diretrizes de como esse tipo de "libertação" deve acontecer, a que mais se aproxima do método que lhes foi ensinado por Seraph é o espiritismo. Eu não sei quanto tempo se passou comigo tentando entrar em contato com o espírito que estava ali em Brian, mas demorou alguns bons minutos até eu conseguir ter um retorno.

    Assim que senti que o canal tinha se formado, eu voltei a abrir os olhos e Brian, que antes apenas grunhia, começou a mover a boca como se tivesse de fato formando palavras, embora nenhum som estivesse saindo até então. O movimento me pareceu repetitivo, então tentei fazer a leitura labial, no que percebi que de fato se tratava de uma mensagem. Uma vez que o canal com o plano espiritual se abre, é possível conversar com os espíritos. Se ele for convencido a desistir da possessão, então a pessoa está livre. Eu acho que é relevante eu mencionar que por mais apegado ao mundo físico que um espírito seja, ele só tenta possuir alguém se ele realmente não for bom. Por conta disso, convencer sempre é complicado todo cuidado é pouco quando se está lidando com um desses.

    A primeira mensagem então que me foi passada foi "eu não gosto desse lugar". Minha conclusão de imediato foi de se tratar de algum espírito que possuía alguma aversão à Lustwood e por conta disso tomou conta de um dos moradores do local como uma forma de se rebelar. Eu engoli seco, no que perguntei para ele o que o lugar tinha de tão ruim. Brian moveu os lábios sem formar de fatos palavras, para então uma voz fraca e grave começar a sair de sua boca. Ele me respondeu dizendo que tem gente demais e repetiu não gostar do lugar. A nova informação em nada agregou à minha hipótese inicial, então prossegui a conversa afirmando que se ele não gosta dali então era só ir embora. Minha surpresa foi a sua resposta ser "não posso ir".

    Pela última declaração ter sido inesperada, eu travei por alguns segundos. Foi necessário respirar fundo para continuar, e só o fiz com mais rapidez ao lembrar a mim mesmo que o canal não fica aberto indeterminadamente. Eu precisava resolver aquilo o mais rápido possível para não arriscar ainda mais. Perguntei então o motivo dele não poder ir, no que sua resposta dessa vez foi um nome. Dois, na verdade. Louis e Sarah. Eu tentei perguntar quem essas pessoas eram, mas por mais que eu insistisse, daquele ponto em diante tudo que Brian (ou melhor, o corpo dele ainda sem seu controle) dizia era Louis e Sarah. Algumas vezes ele até invertia a falava Sarah e Louis, mas o ponto é que dali pra frente eu não consegui novas informações. Sem ter como forçar algo além, eu soltei as mãos de Brian e isso foi o suficiente para que ele retornasse para sua atitude feral de antes.

    Enquanto eu tentava achar alguma saída, acabei acompanhando e auxiliando alguns aspirantes com dificuldade. Seraph ainda estava lidando com seu próprio paciente e não podia parar, e como eu estava empacado com meu próprio problema, talvez ajudar os outros me desse alguma luz. Aquele rapaz de antes, que eu estava explicando o motivo do grupo grande ter se reunido, se chama Noah. Ele também tinha sido designado para um civil, e apesar de ser o mais talentoso dentre os novatos ele costumava ficar nervoso muito facilmente. Ele tinha dez anos, dois anos mais novo que eu, então fui até ele e acompanhei o seu processo. A sua tarefa envolvia uma mulher. Comparado ao Brian, as marcas da "doença" ainda não estavam tão fortes nela, o que significava que o trabalho poderia ser um tanto mais fácil. Minha parte foi apenas ajudá-lo a se concentrar. Noah se aproveitou das raízes religiosas que a mulher parecia possuir para se conectar não com o espírito possuidor, mas a alma da sua paciente lá no fundo daquilo tudo. Ele fez o amor da mulher por seus filhos ser a sua fonte de força, no que isso sobrepujou a força do espírito que tinha tomado conta do seu corpo e, no fim, ela se livrou.

    Eu achei extremamente astuto da parte do rapaz usar a própria força do possuído contra o possuidor, e foi nessa parte que eu tive um estalo quanto ao meu próprio caso. Pedi para que o prefeito fosse chamado, e enquanto eu esperava tentei organizar meus próprios pensamentos. Quando o homem chegou, eu fui até ele me apresentar devidamente e então fui direto em perguntar se dentre os moradores do vilarejo existiam alguns chamados Louis e Sarah. Depois de pensar por uns segundos, ele pareceu ter um estalo e mencionou que um dos moradores mais antigos do lugar eram os Stuart. No caso, Louis e Sarah Stuart. Ouvir isso me arrancou um pequeno sorriso, e eu prossegui questionando se eles tinham filhos. E sim, eles tinham. Tipo, literalmente tinham: seu único filho tinha morrido de uma doença autoimune há alguns anos. Seu nome era Brian.

    Assim que ouvi o nome tal nome eu fiquei todo arrepiado. Não podia ser uma coincidência. Um tanto agitado, pedi para que o prefeito fosse atrás dos Stuart e o levassem até ali. Uma hora se passou, e eu estava bastante inquieto. Noah estava descansando já que todo esse processo é por demais exaustivo e aproveitei para fazer o mesmo. Expliquei o que eu estava enfrentando ali, e ele concordou que de fato fazia muito sentido o que eu estava pensando. "É muita coincidência os nomes iguais", concordamos ao mesmo tempo em determinado momento.

    O prefeito então retornou. Com ele, um casal de idosos. Eles pareciam mesmo ser bem velhos, e o senhor usava uma bengala para se mover. Se eu soubesse poderia ter arranjado outra forma de fazê-los vir, afinal não queria fadigá-los. De qualquer maneira, eles estavam ali. A primeira coisa que fiz foi explicar toda a situação. Detalhei todos os passos que tomei até o momento e eles ficaram completamente chocados quando eu repassei as mensagens do espírito. Sarah simplesmente começou a chorar, no que Louis se manteve firme. Apesar da aura perturbadora do local, eles pareciam agora completamente dedicados a ver a verdade com os próprios olhos. Sem demorar, os guiei até a cela de Brian.

    Como esperado, o rapaz assim que nos viu avançou contra as grades novamente. Eu usei a mesma tática de antes de amarrar suas mãos para fora, mas sabendo que eu tentaria isso ele se afastou até que eu não pudesse alcançá-lo. Como eu já tinha conseguido criar o canal antes, pensei que não precisaria de contato físico para o fazer novamente. De olhos fechados, me concentrei até que pudesse sentir o cosmo agora enfraquecido de Brian. Para minha surpresa, a partir dali as coisas fluíram de forma completamente positiva.

    O que tinha acontecido basicamente era que Brian Stuart assim que conseguiu sua independência financeira saiu de Lustwood. Segundo Sarah, ele nunca gostou daquele lugar. Achava pequeno demais, sujo demais, não atendia às suas ambições. Quando ele teve Lúpus e negligenciou o tratamento, os seus pais o levaram de volta para Lustwood afim de passarem seus últimos momentos juntos. Louis explicou que apesar de tudo, os três sempre foram muito apegados. Eu concluí então que era um caso bastante comum de ter deixado uma pendência em vida: o espírito de Brian se sentia culpado por não ter se cuidado quando em vida e ter causado dor aos seus pais. Ele ter possuído o corpo de outra pessoa chamada Brian parecia ser apenas uma coincidência estranha. O lance é que depois deles conversarem e se resolverem (no que os deixei a sós) e o canal se fechar, Brian Stuart não estava mais ali, somente Brian Smith.

    Enquanto eu descansava no canto, eu repassei todo o processo mentalmente como uma forma de fixar tudo. Em determinado momento, fiquei encucado com o "não posso ir" que o Stuart disse, mas logo deixei quieto já que aquele caso estava devidamente resolvido.

    [...]

    Algumas semanas se passaram. Apesar de alguns como eu terem tido sorte e conseguido lidar com seus pacientes mais rapidamente, outros encontraram extrema dificuldade. Além disso, mais pessoas continuavam aparecendo. Mesmo que todos estivessem se esforçando e se ajudando para lidar com tudo de uma só vez, sempre aparecia um novo problema para nos ocupar. Seraph parecia cada vez mais preocupada conforme os dias se passavam. Certa noite, nos reunimos fora do subterrâneo para uma reunião.

    A líder tomou a palavra e a primeira coisa que fez foi explicar que apesar de realmente ali terem algumas pessoas possuídas, alguns de nós tinham encontrado casos por demais excepcionais. Foi o caso da própria, que ficou com o civil mais antigo afetado por aquela "epidemia". Por mais que ela tentasse, não conseguia se conectar com o cosmo do seu paciente. Não só não conseguia a conexão com o cosmo dele, como também falhou em estabelecer contato com o espírito que deveria estar ali tomando de conta. Outros quatro membros do grupo mencionaram ter enfrentado o mesmo problema, enquanto alguns mencionaram que também tentaram ajudar nesses casos, mas não conseguiram ter êxito algum. Eu não estava atualizando sobre tal situação, então fiquei por demais confuso. Como eles poderiam estar possuídos se nenhum espírito estava presente neles?

    Nossa reunião foi interrompida por um grande barulho crescente vindo do depósito, a agora clínica de reabilitação. Eram os grunhidos e urros que eles costumavam dar quando irritados, mas desta vez estava muito mais alto e eram todos de uma só vez. Fomos correndo para lá de volta, no que tentamos conter ou acalmar os doentes que ainda restavam, mas a coisa só piorava. Foi quando todos fomos pegamos por um enorme abalo psíquico. Para mim, foi como se tudo escurecesse por um breve momento. Quando abri os olhos novamente, tudo estava diferente.

    Foi uma visão. As imagens passaram diante dos meus olhos rapidamente. Em um momento estávamos ali mesmo, mas depois seguimos para ainda mais fundo, para um grande compartimento. Uma névoa de energia verde cortava o ar vinda de um vórtice de mesma cor. Eu vi todos nós lutando contra monstros feitos da mesma energia do vórtice, e então vi nossa vitória depois de matar vários desses monstros e o vórtice se dissipar. De repente, a visão cortou para outra dimensão. Lá o céu era vermelho e energia esverdeada fluía pelo chão de pedra negra. Monstros disformes que nunca vi antes corriam na minha direção, mas então se desfaziam na mesma energia que estava por todo lado, como se fossem tomados e unificados por ela. Uma sombra com vários braços aracnídeos flutuou bem diante de mim, no que moveu uma mão na direção da minha garganta. Quando ele estava prestes a me atingir, a visão estremeceu e no segundo seguinte eu estava de volta à frente das celas, suando frio e de joelhos.

    Movi a cabeça com alguma dificuldade procurando pelos outros. Estavam todos caídos assim como eu, alguns ajoelhados, outros sentados. Os sons pareciam abafados, mas os doentes ainda estavam gritando. Tentei encontrar Seraph, no que ela foi a primeira a se levantar. Eu precisei ainda de mais algum tempo para recobrar todos os meus sentidos, no que fiquei de pé usando a parede de apoio. Àquela altura eu já estava completamente ciente do meu fardo com as visões premonitórias, então consegui lidar com aquilo com maior familiaridade. Minha surpresa, no entanto, foi não ter sido o único a ter aquela "revelação".

    — O que... Foi isso? — perguntei olhando para a líder, embora eu não esperasse que ela de fato respondesse.

    — Estão todos bem? — preocupada, ela checou se estávamos todos seguros. O prefeito então surgiu pela escadaria. Segundo ele, o barulho estava por demais alto e ele não conseguiu fechar os olhos para descansar. Confusos, todos continuamos esperando por alguma instrução de Seraph. Eu consegui sentir que ela própria estava perdida, mas era isso a fazia ser considerada a nossa líder: a forma que ela lidava com as adversidades melhor que todos nós — Isso foi uma... Premonição? Não, não acho que foi isso. Eu acho que não era para que a gente tivesse visto isso. Sinto que fomos pegos no meio de algo bem maior.

    O que não podia ser pior, certo? Se a intuição de nossa grande líder estava apontando para tudo isso, então as chances de problemas ainda maiores aparecerem eram enormes. Todo o grupo continuou em silêncio e atento, ainda aguardando uma instrução. Eu não fui diferente. Estava assustado, sim, então não estava conseguindo raciocinar direito.

    — Senhor Prefeito. Essa ala subterrânea por um acaso teria salas ainda mais abaixo? — Seraph perguntou, no que todos tivemos um estalo ao mesmo tempo.

    — Sim, senhorita. Mais a fundo existia uma mina que há alguns muitos anos era a fonte de sustento do nosso vilarejo. Hoje ela está desativada, mas as passagens ainda existentes. — ele explicou.

    — Sendo assim... — e ela não precisou falar muito mais. Ela selecionou o mesmo time que primeiro chegou em Lustwood e com o objetivo de investigar mais a fundo o que estava acontecendo naquele lugar, eles pretendiam descer ainda mais. O prefeito desejou sorte e voltou para a superfície, mas logo voltou completamente alarmado dizendo que mais várias pessoas estavam precisando de cuidados. A ordem de Seraph então foi simples: enquanto ela estivesse ausente, devíamos continuar o trabalho tal qual fizemos até ali. Ela mandou um grupo retornar com o prefeito para que pudesse fazer o transporte dos civis doentes em segurança. Eu fiquei no grupo que permaneceria ali durante todo o tempo. E assim tudo se seguiu.

    Aquela noite foi extremamente tensa. Em poucas horas, mais civis afetados apareceram que na última semana. Estávamos com sete quando os grupos se separam, e próximo da uma da manhã o número já tinha aumentado para absurdos quarenta, praticamente o dobro do máximo até ali. Não tínhamos sequer celas improvisadas sobrando para os alocar e deixá-los em segurança. Foi quando todos começamos a entrar em pânico. A primeira ideia foi mandar alguém atrás de Seraph para pedir ajuda sobre a forma que deveríamos lidar com aquilo tudo. A partir daí, comecei a me sentir incomodado com quão dependentes da nossa líder estávamos sendo. Ela estava cumprindo sua própria tarefa, e interromper com outros assuntos poderia atrapalhar de diversas maneiras. O plano se diluiu assim que ninguém parecia disposto a ir atrás da Amazona de Cefeu e seja lá o que poderia ter nas profundezas daquele vilarejo.

    — O que estamos fazendo, afinal? — questionei a todos, dando passos à frente para que pudesse ser visto — Eu sei que a situação parece fora de controle, mas tenho certeza que todos já enfrentamos situações assim antes. E se estamos aqui, é porque conseguimos nos virar. — continuei. Eu odiava essa ideia de ter que ir e dar sermão em alguém, ainda mais meus irmãos de treinamento. Pior ainda, porque eu era um dos mais novos e talvez acabasse sendo visto como petulante. Quer dizer, eu sequer tinha uma armadura para chamar de minha ainda, então parecia por demais dramático iniciar um discurso em tal situação, mas eu já estava me sentindo exausto de ficar parado só observando sem fazer algo a respeito — Não vamos sempre ter um líder para nos dizer o que fazer. Temos que dar nosso jeito, qualquer que seja. Não podemos jogar todo nosso esforço fora porque nos rendemos ao medo. Somos melhores que isso. Muito melhores. — e, importante dizer, eu estava me sentindo completamente estúpido por fazer tal discurso motivacional. Mas ao olhar ao redor, notei que todos estavam olhando pra mim, atentos. Eu não sabia dizer se motivados ou me julgando, mas com certeza agora estavam pelo menos pensando em como resolver aquilo tudo.

    Eu que organizei todas as ideias. Primeiro, sobre a falta de espaço. Na verdade, as celas tinham, sim, espaço, mas colocá-los juntos na mesma podia ser perigoso pro caso de começarem a se agredir. De minha experiência com minha primeira tarefa, eu sugeri que prendêssemos aqueles na mesma cela nas barradas numa distância segura uns dos outros. Quando eu dei a ideia, os outros médicos me perguntaram se eu estava falando sério, porque parecia um pouco demais amarrá-los. Mas o ponto é que pela segurança deles, o melhor a se fazer era limitar a sua movimentação.

    Quando alocamos todo mundo, eu tomei a frente mais uma vez e assim como Seraph fez antes, dividi todos nós para que fôssemos cuidando de quem estava ali, do mais antigo para o mais recente. Reuni todos e pedi para que Noah explicasse como ele fez antes para ajudar sua paciente, e então mencionei que para o caso do nosso método convencional não funcionar, também podiam tentar por esse. Ficamos todos surpresos ao aplicar o método do Noah de fazer o possuído lutar por seu próprio controle, porque ele funcionava de fato bem mais rapidamente.

    O lance é que quando me dei conta, eu estava ajudando e guiando todos. Me senti meio estranho por ser a primeira vez que fui tão ativo em uma atividade do grupo, mas também satisfeito uma vez que tudo estava correndo bem. A madrugada se seguiu assim. Estávamos no nosso momento de descanso (afinal ao amanhecer estávamos completamente esgotados e dormir se fez necessário) quando o grupo de investigação de Seraph retornou. Ela permitiu que tivéssemos nosso devido descanso antes de explicar o que encontraram. Ainda bem.
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    Akira
    Cavaleiro de Athena
    Akira


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    Pilar de Almas Empty
    MensagemAssunto: Re: Pilar de Almas   Pilar de Almas Icon_minitimeDom maio 08, 2022 5:19 pm

    — Minhas suspeitas estavam certas. — começou Seraph depois que todos já tínhamos descansado e acordado. Ela precisava passar o relatório da pequena tarefa da noite anterior, então todos estavam atentos, eu incluso — Quanto mais descíamos ontem, mais eu conseguia sentir uma energia estranha se aproximando. Andamos por bastante tempo checando cada ponto possível desse lugar, e eu encontrei por acaso um pouco da energia esverdeada da visão vazando pelas paredes. Nós seguimos a energia para tentar encontrar sua origem até chegarmos num compartimento um pouco mais aberto e encontramos. — ela deu uma pausa, olhando para os outros que tinham a acompanhado e visto o mesmo — Um vórtice como um pilar de energia. Ele estava mais contido quando chegamos, mas quando tentamos nos aproximar ele expandiu e invocou mais dos monstros que vimos na superfície. Os disformes. O vórtice é a causa desses monstros estranhos, e acho que a sua energia está influenciando todo o vilarejo, por isso tantos problemas. Temos que dar um jeito naquilo.

    — E tem mais. — comentou um dos cavaleiros que esteve acompanhando Seraph. A líder ao ouvir isso acenou positivamente para ele.

    — Sim. Nossos poderes meio que não funcionaram lá embaixo. — continuou ela, no que ficou em silêncio por um momento enquanto parecia pensar e considerar várias coisas diferentes — Intensifica possessões, invoca monstros, neutraliza o cosmo alheio... Eu não sei o que é aquilo, de verdade, mas isso precisa ser impedido. E nós sabemos como isso deve ser feito, aquela visão nos ensinou. Precisamos esgotar todas as forças daquele amontoado de energia, matando um por um os monstros que aquilo for invocando. Precisamos garantir nosso sucesso, então... Todos nós, sem exceção, estaremos voltando até lá para acabar com isso de uma vez. — decretou, por fim.

    Para mim, não foi nenhuma surpresa a decisão de lutar. Era para isso que treinávamos na Ilha de Andrômeda, certo? Eu entendia muito bem o que a nossa líder estava sentindo naquele momento, e eu definitivamente me sentia da mesma maneira. Aquelas pessoas já tinham sofrido demais, sabe? Era nossa missão dar um fim àquilo.

    Tivemos algumas horas para nos preparar. Athena não apoia que cavaleiros usem armas, mas durante o treinamento da Ilha de Andrômeda nos tornávamos adeptos do uso de ferramentas como chicotes e correntes. Como é de se imaginar, eu preferia as correntes, então logo empunhei uma jogada pelos cantos do armazém desativo. Pouco tempo depois, o prefeito foi avisado do que aconteceria e então partimos.

    Já sabíamos que um trabalho de mineração era feito ali antigamente, então eu acabei supondo que o motivo dos corredores serem mais espaçosos era para facilitar a movimentação com a carga. Antigas lamparinas estavam acesas por todo o trajeto, cortesia do grupo de investigação que primeiro passou por alo, mas eram o suficiente somente para nos permitir ver onde estávamos pisando. Os minutos pareciam horas naquele lugar, então me mantive de olhos abertos enquanto seguíamos em frente. Em determinado momento, não existiam mais lamparinas clareando o caminho. Não era mais necessário. Uma claridade forte e esverdeada estava vindo do final do caminho, capaz de clarear tudo dessa vez. Seraph, como esperado, estava à frente.

    O caminho até então tinha sido bem cavernoso, porém alguns pontos existiam algumas madeiras presas o que indicava que gente tinha passado ali anteriormente. Essa parte da caverna em que estava o vórtice, por outro lado, não era assim. Imaginem apenas uma caverna comum e bem espaçosa com os limites do espaço sendo todo definido por formações rochosas, goteiras no teto que faziam o som ecoar quando a água atingia o chão e um pouco dessa mesma água acumulada superficialmente por ali. De um lado nós, os cavaleiros e aspirantes da Ilha de Andrômeda. Do outro, o nosso alvo, o vórtice. O pilar de energia era exatamente como o nome diz: um tipo de tornado de energia giratória vazando para os lados. Ele estava bastante contraído quando chegamos, um pouco maior que uma bola de futebol, mas então se expandiu com a nossa chegada, aumentando mais para cima que para os lados, como se cortasse o véu da realidade.

    Raios de energia saíram do vórtice, tocando o chão à frente dele. Cada toque ecoava no ambiente como eletricidade. Como Seraph tinha explicado antes, sua expansão significava que iria se defender. O combate estava para começar. Segurei mais forte a corrente em meus punhos. Não demorou muito para que os monstros começassem a surgir nos locais que os raios energéticos atingiram, e eram muitos. Éramos doze e agora no mínimo quarenta daqueles bichos corcundas sem rosto tinham se amontoado bem diante de nós.

    — Deem tudo de si! — exclamou Seraph, se colocando à frente da batalha com suas famosas correntes de Cefeu em mãos. Eu olhei para os lados observando todos os outros, dos veteranos aos novatos, todos reunidos ali. Aquela visão me deu a inspiração que me faltava. E então avançamos.

    Apesar dos monstros terem o dobro do meu tamanho e parecem ser muito fortes, seus movimentos eram como se estivessem se arrastando pelo chão, o que os tornava lentos. Eu segurei firme na corrente em minhas mãos me colocando de frente para um dos inimigos. Em um movimento simples, flexionei os joelhos e então girei o corpo em um movimento de impacto bem no meio do bicho. Uma gosma verde começou a escorrer do ferimento, mas eu percebi de cara que não tinha sido fundo. Aquelas coisas eram resistentes.

    Ele não só ignorou o ferimento, como logo voltou a me atacar. Movendo seus braços para me atingir, eu me mantive esquivando até tomar certa distância e de repente atacar verticalmente de cima para baixo para arrancar um dos membros superiores do bicho. O golpe foi certeiro, mas minha felicidade não durou muito tempo no que outro braço surgiu no lugar do que arranquei. Continuamos travando um combate de proximidade. Giros, saltos e golpes de vários ângulos diferentes. Nesse meio tempo eu o atingi diversas vezes, mas da mesma forma também fui atingido. Eu estava com um corte no rosto e um ferimento bastante dolorido no ombro direito. No meio dos bloqueios de ataque ele tentou me dar um soco no rosto, no que me agachei e realizei um golpe ascendente com a ponta da corrente em um ataque que foi o suficiente para com a ajuda dos ferimentos anteriores partir o monstro em dois. Ele se desfez em pequenos pedaços de energia esverdeada, que flutuaram em direção ao vórtice e foram absorvidos por ele.

    Meu sucesso chamou a atenção de outros oponentes próximos, que me cercaram afim de defender o seu que acabou de ser destruído. O que chegou por trás tentou me segurar com suas mãos cadavéricas, no que eu me abaixei para me esquivar e então fui obrigado a me jogar de qualquer jeito para trás quando um outro tentou me atingir com as mãos juntas como se fossem um martelo. O seu golpe atingiu o chão, mas foi o suficiente para arrancar lascas da pedra. Estava claro que se um ataque desses me atingisse em cheio eu acabaria em grandes problemas.

    A luta se seguiu com um quarteto me atacando juntos. Mesmo que meus ataques os acertassem ao ponto de fazer aquela gosma escorrer, o ímpeto deles não parecia diminuir. Isso se mostrou um problema, porque com a luta se estendendo logo fui perdendo o ritmo e começando a criar brechas. Foi em uma dessas que finalmente fui pego por uma cabeçada do lado direito do meu tronco, o que me arremessou em direção à parede atrás de mim. O golpe foi tão forte que eu senti o ar faltar, além de minhas costas começarem a arder pelo impacto. Eu comecei a me afastar de qualquer jeito conforme eles viam em minha direção, correndo com uma mão segurando ao lado do meu corpo como se eu estivesse tentando me sustentar de pé. Como apenas um aspirante, eu não tinha uma armadura sagrada para me defender como os outros cavaleiros naquela batalha. Aquilo tornava a situação muito mais complicada para mim.

    Foi quando a líder surgiu partindo dois dos meus perseguidores ao meio, os desfazendo em energia que retornou para o vórtice. Ela tomou a minha luta para si, no que eu me senti um peso morto por não estar conseguindo contribuir naquela luta. Eu olhei em volta e vi todos os outros dando tudo de si, alguns realmente lutando juntos para alcançarem o êxito. Me juntei à mulher na sua investida, no que realizei um poderoso golpe de cima para baixo que ela simplesmente complementou estendendo sua mão e fazendo sua corrente flutuar com velocidade a atravessar a cabeça do bicho. Aquilo foi o suficiente para destruir o bicho e foi ali que entendi.

    Nós juntamos forças para cuidar do que sobrou do nosso lado e eu estava andando na sua direção para explicar meu plano quando uma onda de energia partindo do meio daquele lugar arremessou todos nós em direção às paredes. A energia foi tão densa que deu para ver ela se expandindo e nos arremessando, e tudo sem afetar os muitos monstros que ainda estavam de pé. Estes, que assim que notaram uma brecha se juntaram e avançaram em nossa direção.

    Seraph foi a primeira a se mover e dizimar mais um amontoado de monstros sozinha. Era a primeira vez que eu a via lutando e, como esperado da Amazona mais experiente, sua força era descomunal. É claro que ela sozinha não daria conta de toda aquela multidão, mas pelo menos a maioria parecia não ser o suficiente para pará-la. Foi quando energia se reuniu novamente no centro do ambiente para nos empurrar e nos vemos de repente tomados pelo desespero.

    Como a líder tinha tomado a frente, ela acabou ficando um ângulo que ao ser empurrada ela não foi em direção a uma parede. Ela foi jogada direto na direção do vórtice! E sem mais nem menos ela simplesmente pareceu atravessá-lo... E sumir. No segundo seguinte, o amontoado de energia se expandiu ainda mais, girando tão forte que fazia o vento por perto ser afetado. Foi uma ventania extremamente poderosa que nos impedia de nos mover. Mais raios de luz verde saltaram dali em direção ao chão, repondo boa parte dos monstros destruídos e no momento seguinte todo o vórtice simplesmente sumiu, deixando-os para trás somente os monstros e resquícios de sua energia que ainda clareavam o lugar.

    "Não!", gritaram todos em desespero. Eu não consegui nem mesmo exclamar alguma coisa, no que fiquei estático com os olhos arregalados e a boca aberta. De um minuto para o outro toda a força que tínhamos reunidos para lutar pareceu simplesmente ter se esvaído, e eu vi muitos caírem de joelhos no chão em completo desamparo. Eu mesmo afrouxei a empunhadura da corrente que eu tinha em mãos, ainda sem conseguir acreditar no que tinha acabado de acontecer. No entanto, quando os monstros voltaram a se mover na nossa direção, eu percebi que se continuássemos parados o nosso túmulo seria bem ali naquele subterrâneo.

    Mas eu posso afirmar com todas as minhas forças que eu me recuso a morrer. Pelo menos, sem que seja doando a minha vida para proteger Athena.

    — De pé. — falei, mas tão baixo que eu mesmo não consegui me ouvir direito — Eu disse de pé! — eu estava tremendo assim como todos e definitivamente não sabia como iríamos escapar daquilo. Mas nossa líder precisava de nós. Não podíamos largá-la — Talvez se todos esses monstros se tornem energia o vórtice apareça novamente para levá-los. Seraph depende de nós. Vamos juntos! Façam com que virem energia. Destruam todos!

    E mesmo que eu não acreditasse mais uma vez que eles ouvissem meu apelo, eles o fizeram. Estávamos cercados mais uma vez e não tínhamos nossa principal força do nosso lado. Mas talvez se lutássemos juntos fosse possível compensar e vencer.

    — Ataquem juntos, um atrás do outro! Eles tem regeneração, mas se os ferir o suficiente de uma vez só eles caem! — eu disse, lembrando de como o braço de um regenerou momentos depois de ser cortado, mas outro não conseguiu se manter depois de um ataque duplo se complementando.

    Mas nós não éramos os únicos que podiam juntar forças. Lado a lado avançamos mais uma vez, no que os inimigos simplesmente se adaptaram e usaram praticamente a mesma formação em linha. Diferente da primeira vez que nos dispersamos para lidar com o máximo possível individualmente, desta vez a investida buscava usar a força do grupo reunido. Eu ataquei com outro golpe de cima para baixo fazendo um grande rasgo, no que ao me agachar pelo movimento um outro cavaleiro saltou por cima de mim e com seu chicote em mãos fez um corte horizontal que foi o suficiente para desfazer o monstro. A sua energia voou na mesma direção que antes toda a energia estava se reunindo, o que me fez acreditar ainda mais na possibilidade do "portal" se abrir uma vez mais. Em determinado momento, me vi de costas para Noah. Mesmo sem combinar, nós giramos nossas correntes e então nossos corpos, criando um turbilhão contundente no centro da luta. A junção de nossas forças foi suficiente para golpear fortemente mais um amontoado de inimigos, permitindo que os outros cavaleiros os finalizassem.

    Conforme eles iam sendo destruídos e seus fragmentos flutuavam para o outro lado da sala, eu esperei que eles fossem se reunindo como antes. Mas não aconteceu, uma vez que eles simplesmente estavam sumindo em pleno ar. Apenas respirei fundo. "Quando não tiver mais nenhum o vórtice deve voltar. Ele tem que voltar", pensei, e assim seguimos na luta.

    — Estamos em números iguais agora! Atraiam todos para o mesmo lugar! — gritei, no que os outros responderam com um sonoro "sim!". Sim, eu tinha um plano. Um por um nós nos dispersamos para chamar a atenção dos inimigos que sobraram, e correndo pelo lugar em determinado momento todos eles estavam praticamente amontoados em um ponto só — Agora! Ataquem com toda força que lhes resta!

    Com todos reunidos, avançamos para o ataque derradeiro. Foi uma chuva de golpes especiais em cima dos monstros, com todos atacando todos e os destruindo de uma vez por todas. Com um braço erguido, criei uma onda que lavou uma parte dos monstros. Logo atrás de mim, Noah estalou os dedos e lançou um raio elétrico na minha onda. Nos olhamos surpresos, porque nossas habilidades não deveriam funcionar segundo o relatório de Seraph, mas aparentemente o sumiço do vórtice parecia ter nos permitido tomar nossas habilidades plenas de volta.

    O ponto é que depois daquilo tudo estava acabado. Eufóricos por termos conseguido, começamos a gritar de empolgação. A energia que os formava se reuniu como esperado, e todos as seguimos com os olhos esperando que abrissem a passagem novamente e Seraph pudesse atravessá-la em segurança.

    Mas isso não aconteceu. Nada aconteceu. Não só a energia dos monstros sumiu, como a remanescente que iluminava o lugar também se foi. Não sobrou nada ali. No escuro, sem conseguir ver uma palma na frente do rosto que fosse, gritos de angústia ecoaram. Eu caí de joelhos com as mãos unidas em prece. Não, tinha que ter alguma coisa. Eu me recusava a aceitar que tudo se encerraria daquela maneira. Ficamos ali por horas, eu imagino, esperando por algum milagre. Foi quando senti o chão começar a ficar molhado.

    Não tinha como ver do que se tratava, mas de repente um grande volume de água começou a se formar ali, subindo rapidamente. Depois veio o estrondo, e então eu me senti sendo empurrado. Era água, muita água. Começamos a correr, mesmo que às cegas. O primeiro que localizou a passagem para o corredor começou a gritar e então nos guiamos pela sua voz. Fomos correndo no escuro sem entender nada até finalmente chegar na parte iluminada novamente. Olhando para trás, foi fácil perceber que todo o lugar estava sendo coberto por água. Alguma coisa estava o inundando! A água vinha de vários lados e foi responsável por causar um desabamento que cobriu a passagem de volta. Nossa alternativa foi correr em direção ao caminho que ainda estava livre, mesmo sem saber onde ele ia dar.

    Depois de um bom tempo de desespero correndo para não morrermos afogados, encontramos um tipo de porta antiga. Ela parecia estar trancada por fora, mas a força conjunta de vários conseguiu derrubá-la. O milagre que pedi antes pareceu ser atendido quando a porta se revelou uma saída para a superfície, na parte mais alta de Lustwood. Sem pensar duas vezes, fomos todos atravessando e logo estávamos salvos.

    O problema foi que de onde estávamos era possível ver a parte mais baixa do vilarejo. Ele estava completamente coberto por água. Foi desesperador ver aquela cena, porque era tanta água que nem mesmo dava pra ver a passagem para onde estavam os civis sendo tratados. Pior que isso, mas sendo a parte mais baixa dali, pela lógica lá foi a primeira parte a se preencher de água. A essa altura as chances de ter alguém vivo eram nulas e... bem, era ali que estavam todas pessoas possuídas.

    Acampamos em Lustwood por mais alguns dias para nos certificar de que os monstros não apareceriam novamente, bem como ter certeza que os problemas com possessão tinham sido resolvidos. E de fato tínhamos conseguido, porque nem um dos dois problemas voltou a aparecer. O sucesso, no entanto, veio com um preço muito grande tanto para os guerreiros da Ilha de Andrômeda, que agora se viam sem sua figura de inspiração, e também para o vilarejo, que teve vários civis inocentes mortos por uma fatalidade em decorrência do combate para resolver tudo.
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    Akira
    Cavaleiro de Athena
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    MensagemAssunto: Re: Pilar de Almas   Pilar de Almas Icon_minitimeDom maio 08, 2022 5:20 pm

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    Arles

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    MensagemAssunto: Re: Pilar de Almas   Pilar de Almas Icon_minitimeTer maio 10, 2022 11:44 am

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    MensagemAssunto: Re: Pilar de Almas   Pilar de Almas Icon_minitime

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